O Porto-Brandão é conhecido dos lisboetas pelos seus bons restaurantes, na verdade 2 ou 3 perto do cais, onde se come bom peixe e não só. As pessoas desembarcam almoçam (ou jantam) e voltam de barco. Porque os restaurantes ficam todos junto à praia e existem palmeiras por perto, provavelmente a imagem de Porto-Brandão que retêm está bem longe da realidade da pobreza, das casas a cair sem telhado, outras ainda com telhado, anunciando a ruína, os remendos nas fachadas, nas janelas, o desleixo, à excepção da igreja recentemente pintada e luzidia. O largo da igreja está rodeado de pequenos prédios de 2 andares a lembrar a habitação social e há uma paragem de autocarro standard.
Estrada acima é o desfilar de mais fachadas podres, casas velhas algumas com algum estatuto, desgraçadamente entregues ao passar do tempo. A espessura da zona construída é mínima, encravada na profundeza deste vale.
Há um outro lugar, pegado, a meio da subida, a Fonte Santa. Percebe-se por causa da paragem artesanal numa zona ligeiramente mais larga onde há um ou dois cafés marcando a existência de mais um núcleo habitacional. Garagens, um campo de jogos. Mais para cima há algumas vivendas mais modernas, algumas mesmo recentes e bem pintadas e depois a paisagem alarga-se, há espaço para hortas e deixamos o vale.
Chegámos cá acima à nova rotunda, no meio da qual passa o eléctrico chamado metro. Logo depois vem a "minha" paragem num passeio estreitinho onde se passa quase de lado entre as ervas altas e a estrada. Passaram menos de 10 minutos.
Depois 5 minutos a pé contornando o perímetro do campus para entrar na Faculdade pela porta (agora) principal frente às traseiras da biblioteca.
13 fevereiro 2009
O barco e a viagem
Viajar de barco, mesmo 10 minutos, é algo que me pacifica. Parece que tudo muda, e principalmente a noção do tempo. O barco anda devagar e não se controla tão bem a "estrada", o sabor das ondas tem o seu papel e fico mais perto da natureza. Depois há o horizonte a distância, o espaço. Vai sempre pouca gente neste barco, há sempre muito espaço.
Nada que se consiga sentir na viagem de comboio até ao barco, comboios com muita gente onde se viaja tantas vezes de pé ou encostada às paredes por força das circunstâncias, nem depois (e diga-se, muito menos!) na camionete de Porto-Brandão para cima até à Faculdade, onde chocalhamos ao sabor do asfalto meio gasto e ondulado pelo peso bruto dos camiões que se abastecem nos depósitos da GALP. Quando se chega a Porto-Brandão de barco só se pode ir para cima numa estrada íngreme e estreita, onde antigmente os camiões de gasolina derrapavam quando chovia. A camionete lá seguia devarinho atrás, na eminência do camião recuar até nos bater, o que, embora altamente provável, nunca aconteceu. Agora existe com certeza outro acesso aos enormes depósitos e combustível, pois os camiões deixaram de andar naquela estrada. E ainda bem.
O trânsito destes camiões era extremamente violento, desciam vazios e velozes por entre poeira levantada e guinchadelas dos travões como que a abrir caminho, a anunciar que chegavam. Tudo era apertado para eles, a estrada, os carros estacionados no já pequeno largo. Sempre me admirei por nunca ter presenciado nenhum acidente, um carro colhido ou um atropelamento. Acho que tudo ficava suspenso àquela passagem.
No retomar recente do percurso um acidente entre dois carros bloqueou a passagem da camionete e todos tivemos de ir a pé, e registei o abalroamento da velha paragem abrigo (uma paragem peculiar ao estilo artesanal com tecto de lusalite, do lado direito da subida).
Ainda hoje tudo parece antigo em Porto-Brandão, a 10 minutos de Belém cosmopolita.
12 fevereiro 2009
Ferries
Passei muitas vezes ao largo de Porto-Brandão na viagem de barco para a Trafaria, antes de existir a Ponte (pois, houve um tempo em que não havia ponte nenhuma...) e lembro-me das falésias da margem sul, já com algumas construções em ruínas por onde crescia a vegetação e me lembrava muito as imagens que tinha mentalmente construído a partir das aventuras dos Cinco e outras do género, que li avidamente na altura própria em português e em inglês.
Na altura os barcos eram "ferries" pois transportavam também carros, fazia-se a diferença assim entre barcos e ferries.
E era o que havia para ir à praia da Costa da Caparica, e às outras praias antes de chegar à da Costa, em especial a da F.N.A.T. (depois INATEL residência abandonada, hoje hotel) onde passei muitas férias de Verão. Mas isso era toda uma outra história das histórias da minha vida. Desconfio que esses ferries fazem agora o percurso Belém-Cacilhas (na foto a entrada para o cais), pelo menos são iguaizinhos e agora bem mais velhos. E ainda vou arranjar uma foto.
Na altura os barcos eram "ferries" pois transportavam também carros, fazia-se a diferença assim entre barcos e ferries.
E era o que havia para ir à praia da Costa da Caparica, e às outras praias antes de chegar à da Costa, em especial a da F.N.A.T. (depois INATEL residência abandonada, hoje hotel) onde passei muitas férias de Verão. Mas isso era toda uma outra história das histórias da minha vida. Desconfio que esses ferries fazem agora o percurso Belém-Cacilhas (na foto a entrada para o cais), pelo menos são iguaizinhos e agora bem mais velhos. E ainda vou arranjar uma foto.
11 fevereiro 2009
Porto Brandão
Vilória pitoresca, encaixada num vale profundo à beira-mar, com casinhas brancas e palmeiras, uma pequena praia amena, Porto Brandão vista de longe, do barco de passagem para a Trafaria é um local apetecível.
Em Maio 1984 fui pela primeira vez a Porto-Brandão e pareceu-me ter sido envolta numa outra realidade, como se na travessia de barco um portal se tivesse aberto para outra dimensão. Claro, na altura a palavra portal não fazia parte do meu vocabulário.
Deixar Belém de barco e 10 minutos depois (quase um estalar de dedos) estar parada num tempo que já passou.
Em Maio 1984 fui pela primeira vez a Porto-Brandão e pareceu-me ter sido envolta numa outra realidade, como se na travessia de barco um portal se tivesse aberto para outra dimensão. Claro, na altura a palavra portal não fazia parte do meu vocabulário.
Deixar Belém de barco e 10 minutos depois (quase um estalar de dedos) estar parada num tempo que já passou.
De volta
A ideia surgiu no ano passado em Maio, quando comecei a frequentar regularmente os transportes públicos para ir para o trabalho. São 3 transportes que tenho de apanhar, as ligações não são as melhores e há tempo de olhar em volta. Descobrir que afinal tinha tempo levou-me a querer registar imagens, impressões, lembranças e o blog surgiu naturalmente.
As imagens são todas (mesmo todas) de telemóvel, primeiro em Maio com o Nokia N73 (boas) e a partir de Julho com o iPhone (menos boas), as impressões são de agora e do tempo de onde vêm as lembranças, ainda em 1984, quando comecei a fazer o percurso para o meu, então novo, emprego, mas disso não tenho fotos, só pena de as não ter ...
As imagens são todas (mesmo todas) de telemóvel, primeiro em Maio com o Nokia N73 (boas) e a partir de Julho com o iPhone (menos boas), as impressões são de agora e do tempo de onde vêm as lembranças, ainda em 1984, quando comecei a fazer o percurso para o meu, então novo, emprego, mas disso não tenho fotos, só pena de as não ter ...
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